MOMENTOS                                      

EMBARCAÇÕES DO VELHO CHICO - I 

CANOA

A canoagem existe há milhares de anos pelo mundo afora, e não há como afirmar onde, nem quando a canoa começou. Há quem fale em 25.000 anos, mas arqueólogos encontraram até agora somente os restos de uma canoa esculpida em madeira há cerca de 8.000 anos. De um modo geral, a canoa vem sendo feita de vários materiais além de tronco de árvore, como couro de animais armado com varas, feixes de junco, etc. Mas vamos nos ater, apenas, e rapidamente, sobre a nossa canoa, que é uma embarcação leve e rudimentar, construída para remo, mas que é possível a adição de mastro para combinar a propulsão de remo com a de vela. Ela não possui leme, sendo construída a partir de um único tronco, grosso, de árvore robusta e retilínea, de preferência macia e abundante na nossa região. Então, era usado o TAMBORIL (Enterolobium Contortisiliquum), que atendia bem a estes pré-requisitos. É uma árvore de grande porte e com vagem marrom-escura quase preta, em formato de rim ou de orelha humana. Essa vagem, assim como as raízes, são suspeitas de possuir toxidade, portanto não são comestíveis e afirma-se que causam aborto nas fêmeas dos animais que as ingerem. A semente, de quatro a doze por vagem, tem germinação fácil, ideal para a revegetação de áreas degradadas pela boa adaptabilidade. Tem o crescimento rápido, é melífera e a madeira é de bom aproveitamento. Na Barra há um pé, vigoroso, logo na entrada da cidade, do lado direito de quem acessa a Rua do Cemitério.

PAQUETE

Paquete é a denominação dada aos antigos navios de luxo de grande velocidade, geralmente movidos a vapor. Porém, na nossa região sanfranciscana, PAQUETE é uma embarcação que evoluiu da canoa, um melhoramento feito na região, uma atualização, um ‘upgrade’, quando foi dividido ao meio no sentido longitudinal e acrescentadas tábuas entre as duas metades, presas entre si por travessas de madeira chamadas de cavernas. Estas tábuas eram de madeira de lei, principalmente de jatobá, que é forte, resistente à água e era abundante na região (Fabaceae - Caesalpinioideae). O jatobá é também conhecido pelo nome de jataí, jutaí e pão-de-ló-de-mico. Esta árvore ocorre em toda a América Latina, com seu centro de diversidade na Floresta Amazônica. Com esta melhoria, a capacidade de carga aumentou bastante, como também aumentou a segurança e estabilidade da embarcação, de maneira muito considerável. O paquete deixou de ser construído há vários anos e por isto já não é mais visto na nossa navegação fluvial, cedendo lugar para os barcos.

BARCO

Em princípio, toda embarcação pequena é chamada de barco ou de canoa, mas há diferenças entre elas. O BARCO tem assumido o lugar das canoas e paquetes da nossa região sanfranciscana e passou a ser construído, principalmente, por conta da retirada da mata ciliar, quando foi feito o desmatamento das margens dos nossos rios, para atender à demanda da construção civil e, principalmente, pelo alto consumo de lenha nas caldeiras dos vapores, usinas de eletricidade, fornos de carvão, nas padarias e até nas casas residenciais. Nesta época a lenha era vendida, de porta em porta, sobre jumentos e burros carregados, assim como nos paquetes na beira do rio. Além disto, com o advento da tecnologia, inclusive com a chegada da eletricidade na região, foram montadas serrarias e carpintarias para a produção de tábuas, barrotes, caibros, etc., e a fabricação de produtos manufaturados, com o aproveitamento mais racional da madeira. Então, o BARCO é construído somente de tábuas serradas, finas e de madeira de lei, para suportar a água e o esforço do carregamento, tanto de material como de pessoas. É bem mais leve e tem boa capacidade de carga, pois pode ser mais profundo, largo e mais estável do que as canoas e paquetes, que ficavam limitados ao diâmetro do tronco que lhes deram origem. Além do mais, fica bem mais fácil a instalação do motor de centro ou de popa e foram apelidados de “fofa barranco” na década de 60. Além deste barco comprido, era construído, também, o barco curto de madeira serrada e com motor de popa. Alguns industrializados passaram a ser trazidos de fora, com casco de alumínio ou de fibra de vidro (fiberglass), bem mais leves, muito velozes e alguns chamam de voadeira ou de lancha.